Com um enredo baseado na história do profeta Moisés (Guilherme Winter), em seus embates com o faraó Ramsés (Sergio Marone) e nos rolos amorosos com a Zípora e Nefertari (Giselle Itié e Camila Rodrigues, respectivamente), a produção incomoda a Globo desde março, quando estreou.
“Um dos nossos maiores trunfos foi apostar numa temática diferente e lançar a primeira novela bíblica do país”, comemora o diretor-geral da obra, Alexandre Avancini. Hoje, a novela já é exibida em Angola e Moçambique, na África, e está sendo negociada com o canal Mundo Fox, dos Estados Unidos.
Após investir pesado no RecNov, central de produções em Vargem Grande, a Record passava por uma crise de audiência antes do fenômeno egípcio. Desde a abertura do complexo, o canal chegou a ter três produções simultâneas, mas nos últimos anos, seguia uma curva descendente na área.
A agora, a a alta cúpula da Igreja Universal aposta todas as fichas na novela bíblica e os 150 capítulos do folhetim vão consumir 105 milhões de reais, uma média de 700 000 reais cada um. Com grandes cenários e figurinos impecáveis, todo o acabamento é feito a mão, com peças inspiradas em grandes produções.
“Nós nos inspiramos em várias produções para fazer os cenários, do antigo filme Os Dez Mandamentos, dos anos 50, com o ator Charlton Heston, a Gladiador, passando por Guerra dos Tronos”, diz o diretor de cenografia, Helton Minosso, que tenta dar veracidade à opulência egípcia.
Tatuagens, marcas de vacina e sinais que comprometam a veracidade histórica são cobertos por base e cosméticos, já que os egípcios eram conhecidos pelas cabeças e corpos lisos. Todos os homens do Egito devem manter a depilação em dia e a careca sempre lustrosa, inclusive o protagonista Sergio Marone.
Com um enredo bíblico e diálogos e discursos moralistas, “Os Dez Mandamentos” segue o caminho oposto ao das tramas com polêmicas e temas contemporâneos da Globo. Há quem credite o sucesso da Record a uma onda conservadora entre o público da TV aberta, incomodado com as ousadias das demais novelas.
“Com uma narração atemporal, a produção tem todos os ingredientes de um folhetim clássico: drama, triângulo amoroso, disputa pelo poder, inveja e doses de comédia”, diz a autora Viviam de Oliveira, que segue o exemplo de Glória Perez, com suas novelas baseadas no Marrocos, na Índia e na Turquia.
“Tenho muita liberdade, mas não sou louca de mexer no enredo bíblico”, revela a autora. O especialista Claudino Mayer, doutor em teledramaturgia da Universidade de São Paulo (USP), diz que a trama bíblica mexe com o inconsciente coletivo, perpassa diversas religiões e desperta a curiosidade do público.
“Fazia tempo que não se via uma produção mobilizar famílias inteiras, como esta está fazendo”, observa. José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, ex-Globo, também também falou sobre o embate com a novela das nove. “É óbvio: uma novela tem história, enquanto a outra (Babilônia) não”, resume Boni.
A ideia da Record se junta ao filão ressuscitado recentemente por Hollywood, considerado uma aposta certeira. Já se conhece o final da história, mas sabe-se que a nova roupagem garante o deleite das plateias de todas as faixas etárias, como as três últimas superproduções religiosas.
As produções bíblicas de agora não têm a reverência à religião ou a preocupação de serem respeitosas como no passado. No entanto, a produção da Record se alinha com a concepção mais tradicional, já que a emissora é comandada por uma igreja evangélica e retomou o projeto de temas bíblicos há cinco anos.
Na década de 90, foram produzidas as séries “A História de Ester” e “O Desafio de Elias”. Em 2010, foi feito um “remake” em formato de superprodução da história da rainha Ester, em dez capítulos. Depois, veio “Sansão e Dalila” (2011), “Rei Davi” (2012) e “José do Egito” (2013).
A saga de Moisés seria também uma produção compacta, mas a direção da emissora resolveu arriscar um formato mais ambicioso em um horário que não concorresse diretamente com o principal produto de dramaturgia da Globo, tendo como rival um dos programas de maior audiência da Globo, o “JN”.
O principal telejornal do país, no entanto, perdeu público e nos últimos quatro meses, a turma do Antigo Egito chegou a liderar o horário, ainda que por alguns minutos, em cidades como Belém, Recife e Goiânia. Animada, a Record já decidiu que seguirá investindo em temas bíblicos, na continuação da novela.
Trata-se da trajetória de Josué, substituto de Moisés na história bíblica. Se repetirá a trajetória até agora bem-sucedida da antecessora, só Deus sabe.
do site TV Foco
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