sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Intérprete de Linda comenta cena marcante em “Amor à Vida”; confira!

Bruna Linzmeyer: “Um autista e sua família podem nunca ter um momento como esse” 
Em entrevista ao site Gshow, Bruna Linzmeyer comentou a experiência de ter interpretado a personagem Linda na novela “Amor à Vida”. De parto normal e sem complicações, a atriz deu à luz a personagem autista que desperta elogios desde os primeiros capítulos da trama de Walcyr Carrasco. Confira:
Por que você escolheu dar a entrevista de pés descalços sobre o gramado?
Porque eu sou uma pessoa da natureza, assim como a Linda. Ela adora as formiguinhas. De vez em quando eu venho para cá, me sento aqui e aproveito o tempo para relaxar, refletir, ler um pouco.
Você poderia comentar a gravação da cena em que a Linda pede socorro à família?
Com prazer. A cena é linda, é muito linda. Às vezes, um autista e sua família podem nunca ter um momento como esse, mas em muitos outros casos ele existe. E trata-se de um momento muito arrebatador, porque ninguém espera. A Linda não é um personagem verbal, não sabe o que o verbo significa, ele não a satisfaz. O verbo é só mais uma coisa na vida, só mais uma maneira de ser. É preciso muito aprendizado com terapias, fonoaudiologia e psicologia para que um autista chegue a esse estágio verbal. Então, é muito bonito, principalmente para as pessoas não autistas, porque eles são seres verbais, precisam de palavras para se comunicar. Para a Linda, o que é potente é o que acontece depois desse momento. Ela só percebe a potência daquela cena no dia a dia que acontece depois.
Levou anos para Linda conseguir se expressa
Levou anos para Linda conseguir se expressa
Você comentou com o diretor, Mauro Mendonça Filho, que o texto da cena estava muito bom… Por quê?
Estava muito bem construído. Sua construção foi muito boa por não ser exatamente linear. O pensamento de uma pessoa não autista é linear, diferente de como acontece com a Linda. O pensamento dela é entrecortado. Além disso, o texto é recheado de referências, e o trabalho é feito a partir de histórias que já existem. A Linda existe porque os autistas existem, e porque eles precisam que a Linda exista também. Foi um texto cheio de história.
Como a Linda afetou você?
Por inteiro. A Linda me afetou muito, de muitas maneiras. Ela mudou meu olhar, meu ritmo, meu tempo, mudou muita coisa. Eu não tenho a dimensão do quanto ainda, mas espero que isso ainda reverbere por algum tempo em mim.
Isso é tudo que você vai levar da Linda quando a novela terminar?
Não. Eu pedi para ficar com um dos quadros da Linda. Na verdade, eles são de uma artista muito sensível, e eu realmente acho os quadros dela verdadeiras obras de arte, porque eles me atravessam. Eu os acho lindos, e eles são um signo do que a Linda foi e é na minha vida. Gostaria de ter um signo para levar comigo. Pode ser qualquer um deles. Ainda não sei onde vou pendurar o quadro. No meu coração, com certeza.
Como você pretende influenciar as pessoas com o seu trabalho?
Quando a gente inventa ou decide fazer um trabalho, tudo o que queremos é que nosso trabalho possa afetar as pessoas, assim como os quadros da Linda me afetam. Talvez essa seja a característica de uma obra de arte: atravessar as pessoas. Isto ou aquilo são obras de arte para mim porque me atravessam, porque mudam a batida do meu coração. Tudo o que um artista quer é fazer uma obra de arte, mas nem sempre ele faz. Nem sempre dá para fazer. Eu não sei se a Linda é uma obra de arte, mas existe em mim o desejo de que ela seja. Eu fui muito afetada pela Linda, e isso já é importante para mim.
Como são os momentos após as gravações?
Muito bons! Há algo de inexplicável no trabalho de um ator. Você traz à tona emoções muito profundas, algumas são suas, outras são de outras pessoas, e outras são inventadas. E depois que a cena acaba você fica num lugar vazio. Isso parece ser ruim, mas é bom. Como está vazio, você pode inventar uma coisa nova para colocar nesse lugar. Você pode ser uma nova pessoa depois de fazer uma cena em que você ficou vazio no final. Ou seja, trabalhar como atriz cria espaços vazios, além de criar muita coisa.
Cachecol usado em cena é presente de uma autista
Cachecol usado em cena é presente de uma autista
E os momentos que antecedem as gravações? Como são?
Está aqui o pré-cena, eu carrego na bolsa. As músicas que ouço desde o começo são as mesmas, incluindo uma inédita, que nunca foi publicada. Só eu tenho essa música porque é do meu namorado, o Michel Melamed. E tem também os livros, que me acompanham sempre. São muitos, desde biografias até livros de poesia. Mesmo que eu não consiga lê-los, só de tê-los por perto já faz alguma diferença. Nunca são os mesmos livros. Às vezes eu olho para a minha estante e elejo aquele, sem nenhum motivo específico. Os livros e as músicas são tão importantes quanto o texto e o figurino. Eles são uma conexão com pessoas que eu admiro, com pessoas que mudaram a minha vida.
O que existe no universo interior que você construiu para a Linda?
Muita consciência de tudo. A Linda sabe de tudo, muito mais que todo mundo. E essa vida interna existe desde a primeira faísca de existência da personagem. Desde as primeiras cenas, eu procurava olhar para as coisas com o olhar de quem vê, de quem sabe. E é tão bonito chegar ao final da novela e perceber que houve conexão com o autor, porque ele faz a Linda dizer exatamente isso: “Eu ouvia vocês”. E isso significa “eu entendia, eu sabia, eu sei”.
O que você gostaria de dizer às pessoas que têm acompanhado seu trabalho?
Gostaria de dizer “obrigada”. Ouço tanta coisa das pessoas, e a Linda não existiria sem elas também. A construção de uma personagem depende do público, especialmente em uma novela em que a história é influenciada pelo que o público espera, e tudo muda o tempo todo. Então eu tenho que agradecer a todo mundo que está em volta. Parece um clichê, mas é verdade.
TV Foco

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